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A história do horror no Japão


Olha eu aqui de novo *-*
Hoje vim falar sobre um gênero de anime/mangá que faz muito sucesso no Japão, o terror. Tive essa idéia quando estava lendo uma matéria sobre isso em uma revista. Sinceramente, é bem interessante, uma história realmente peculiar.

Clique no "Leia mais" e saberá porquê ;D
Muitos animes/mangás de outros gêneros como comédia ou drama, têm sua parte de terror, vou citar alguns exemplos aqui. Isso acontece porque os japoneses têm uma facilidade maior em acreditar em fantasmas - não por serem ignorantes supersticiosos, nem de longe. Tecnologicamente falando, o povo japonês deve estar uns vinte anos à nossa frente, no mínimo. A religião é que faz a diferença, como se trata de um povo extremamente tradicional, eles conseguem criar uma ponte perfeita entre o misticismo e o mundo atual.

Compreendendo as religiões

Terror e religião têm uma relação íntima quando se trata de punição e culpa, não é à toa que quando crianças nossos pais normalmente dizem: "Não faça isso ou o monstro vai te pegar.", pode não ter sido um exemplo muito bom, mas é por aí que a coisa caminha u.u" . Emfim, a maioria dos países têm seus mitos, basta pesquisar um pouco mais aprofundadamente para perceber que eles têm forte influência. No Brasil, nossas "bestas folclóricas" têm origem em mitos indígenas e africanos. No Japão, as origens são outras, mas a mecânica é a mesma.
 O Budismo e o Xintoísmo são as duas principais religiões do Japão, e nelas a presença de espíritos se reflete em centenas de mitos de fantasmas com os quais o povo japonês convive desde que nasce. Vida após a morte não é um conceito vago para essas duas religiões, no Budismo, por exemplo, aparecem os Butsudan, altares domésticos onde os espíritos dos ancestrais mortos basicamente residem. O Xintoísmo oferece outro conceito, onde os espíritos habitam praticamente tudo, havendo um espírito para cado objeto animado ou inanimado. Mas a raíz disso tudo é mais profunda: o Japão jamais foi um país que se prendesse a uma única religião.
Antes da chegada do Budismo e do Taoísmo no Japão, o país realmente não tinha uma religião única, mas diversas religiões com elementos em comum, como o culto a um espírito ou deus da natureza.Tantos elementos em um único lugar fez com que se misturassem no imaginário popular e se incorporassem  às religiões maiores.
Quem viu Shaman King com olhos um pouco mais atentos percebe que a história não seria muito diferente se seu contexto fosse a Umbanda.
Em todo caso, essa presença cultural do horror é mais antiga do que os próprios mangás.





O Começo

No mesmo século XVIII que gerou, no Ocidente, o surgimento do horror gótico clássico como o conhecemos, surgiria aquele que é mais frequentemente apontado como o marco zero do horror japonês na literatura - Ugetsu Monogatari (Contos do Luar e da Chuva). Muito comparado à literatura seminal de Edgar Allan Poe, o livro em questão era essencialmente uma reinterpretação macabra das lendas folclóricas de origem chinesa e japonesa. Ueda teria um segundo romance fundamental nesse universo, Harusame Monogatari (Contos de Primevera, póstumo), e esses dois volumes seriam importantes na visão de autores fundamentais do gênero. Resumidamente, o que os seguidores de Ueda fizeram foi tomar a própria cultura como manancial de horrores, e em geral quem faz isso se dá bem.

O século XIX veria uma grande popularidade do gênero, e isso levaria a sua representação visual através do Ukiyo-e. Considerado um dos que cunharam o termo "Mangá", Katsushika Hokusai é mais lembrado por suas plácidas ilustrações de paisagens. Mas ele, antes de qualquer coisa, era um artista popular que atendia às demandas do público, e ele viria a lançar uma série de ilustrações como Hyaku Monogatari (Cem Histórias), com imagens gráficas de monstros, fantasmas e demônios. Havia muita violência gráfica nessas imagens e não foi à toa que, quando os ukiyo-e japoneses chegaram ao Ocidente no final do século XIX, influenciaram muito da ilustração do art nouveau com seu padrão de cores planas e leves.


Mangás de aluguel

Após a Segunda Guerra, conteceram dois eventos importantes, um para o horror como gênero e outro para os quadrinhos. Para o último, foi o crescimento de uma indústria de locadoras de quadrinhos que serviam como diversão barata para o grande público.
Como os mais velhos começaram a consumir esses quadrinhos, começaram a se fazer materiais para eles, os chamados Kurai, que tratavam de temas mais sombrios. Influenciados pelo film noir, pelo cinema de Kurosawa e Ozu, e pelo neo-realismo italiano, os Kurai serviram de celeiro para uma geração de quadrinhistas que, ao migrarem para as grandes editoras, já no meio de uma explosão de quadrinhos aliados à decadência das locadoras, revolucionariam o mangá e o tornariam o que é hoje, Os Kurai, longe das imitações do quadrinho infantil, apresentavam quadrinhos de crime, desconstruções históricas e, é claro, de terror.

Shigeru Mizuki



Com os mangás de aluguel, autores como Shigeru Mizuki (autor de Ge-ge-ge no Kitaro) puderam desenvolver seu trabalho com um certo sossego.
O trabalho de Mizuki é particular por uma conjunção de fatores. Veterano da Segunda Guerra, lutou pelo exército japonês no front da Nova Guiné. Perdeu um dos braços em combate, mas ele fez amigos no local e chegou a considerar a idéia de permanecer de vez no país. No fim, ele voltou cheio de sequelas psicológicas e atormentado por pesadelos. Influenciado pelos Ukiyo-e de horror, ele usava os quadrinhos para exorcizar seus fantasmas. E aproveitando o terreno livre dos kurai, ele gerou histórias como "Yurei Ikka" e Kappa no Sanpei" para o mercado dos mangás de aluguel.
Mizuki usava como matéria prima o que havia de macabro no folclore japonês. Era algo mais do que seu imaginário infantil.Talvez por conta de suas sequelas de guerra, ele realmente acreditava nas criaturas que desenhava. Colecionava imagens e ilustrações de youkais, os demônios que aparecem em séries como InuYasha, e se dizia um relações- públicas entre o mundo deles e o nosso. Construiria uma casa labirinto, a qual ele adicionava quartos e os desfazia de acordo com o seu humor. Há histórias sobre editores que entravam em sua casa para buscar as páginas de seu trabalho, se perdiam nela, e ao encontrar uma porta se viam presos em um armário. Para fechar o bolo: havia um quarto que só ele sabia como encontrar no labirinto. Nem a mulher e os filhos encontravam o cômodo e Mizuki frequentemente se recolhia nele quando queria ficar sosinho.


Mas, apesar de tudo, Ge-ge-ge não era verdadeiramente um material de horror, mesmo que a série por si só seja muito macabra e até hoje seja lembrada como um marco do gênero no Japão. Talvez fosse melhor lembrada como uma mistura de humor negro e horror juvenil, e seus melhores herdeiros são os materiais que se equilibram entre o aventureiro e o macabro, como InuYasha e Shaman King.


Ma há motivos para tal: o que chamamos hoje de horror era chamado na época de kaiki, "misterioso", "grotesco" ou "anormal".

Kazuo Umezu

Umezu nasceu no ano de 1936 e, ao contrário de Shigeru Mizuku, teve uma trajetória menos dramática. Durante a faculdade, trabalhava para o mercado de quadrinhos de aluguel para ganhar algum dinheiro enquanto estudava. Sua primeira criação foi "Betsu-Sekai" ( "Outro Mundo" ), seguida do infantil "Mori-no-Kyoudai" ( "Irmão e irmã em uma floresta" ). Mas só começou a trabalhar realmente no horror após a sua formatura em 1962, quando ele decidiu, por fim, se dedicar em definitivo aos quadrinhos.
Umezu jamais foi autor de um gênero só: foi consagrado como autor de horror graças a trabalhos seminais como "Hito-kobu Shoujo", mas também foi um dos pais do gênero Comédia Romântica, com Romansu-no-Kusuri".
Mas o que tornava o horror de Umezu tão especial em relação aos de seus contemporâneos a ponto de tornar o horror um gênero a parte? De acordo com a mangaká Kanako Inuki, "O drama em seus mangás nasce do horror na vida diária de mundos anormais e disformes com realidades distorcidas. Os personagens, em suas histórias, sempre têm seu próprio ponto de vista, e isto é o que faz as coisas assustadoras; não é a imagem deles, mas a forma em que as emoções dos personagens são projetadas sobre o leitor, fazendo que você se sinta não apenas assustado, mas manchado pelo ciúme, imerso em tristeza ou marcado por um tanto de ódio".
A popularidade de Shizeru Mizuki e Kazuo Umezu atraiu outros escritores para o gênero na época.

Hineshi Hino



Hino é o segundo nome, ao lado de Umezu a marcar a transição do kaiki para o kyoufu. Seu mangá "Panorama do Inferno" foi publicado aqui no Brasil pela Conrad Editora. Começou trabalhando com comédias de humor negro e ficção científica. Seu gosto pelo grotesco, entretando, o levou para o trabalho de ambos os autores, e ele, enfim, decidiu entrar no terreno do horror com a história Zouroko no Kibyo.
Hino levou um ano produzindo a história, que foi publicada pela Shonen Gaho, traumatizando uma geração de crianças ao contar a história de um homem solitário chamado Zoroku, infectado por uma misteriosa doença que o faz apodrecer, com muitos detalhes gráficos.
Hino acabou se tornando muito influente, há muito de choque pelo choque em seu trabalho. Sem sua influência não haveria gente como Junji Ito, com suas pessoas que se vêem infectadas por espirais e se tornam monstros.


A nova geração do horror


Kanako Inuki acompanhou, como leitora, a fase clássica do horror japonês nos quadrinhos, mas entrou muito tardiamente no ramo. Ela já estava casada e com um filho quando decidiu desenhar profissionalmente. Seu fanzine despertou atenção de editores japoneses e rapidamente estreou no ramo, em uma edição especial da revista Shoujo Girlfriend, em março de 1987.
Com o sucesso da Asashi Sonorama no horror, a Kodansha rapidamente lançou sua própria antologia do gênero, e tornou Inuki a desenhista principal da publicação, além de providenciar histórias curtas para a revista.
O ano seguinte após a estréia de Inuki trouxe outra estréia, a do nome mais importante da nova geração do horror: Junji Ito. Nascido em 1963, se tornou, como a maior parte dos quadrinhistas do gênero, fã dos quadrinhos de Umezu. Embora seus temas lembrem muito os de Hineshi Hino, onde o sobrenatural surge de forma muito inexplicável e transforme homens em monstros sem explicação, o seu trabalho lembra muito os conceitos de H.P.Lovecraft, autor dos legendários "Mitos de Chutulhu", para quem o terror se baseava no indivizível e no incompreensível. Mas um dos atrativos extras de seu trabalho é a beleza elegante de seu traço e de suas personagens femininas, o que não é uma marca dos autores do gênero.

Uzumaki, publicado no Brasil pela Conrad, é um marco e gerou um longa-metragem, mas a sua obra mais popular é Tomie. A personagem-título é uma adolescente bela e eternamente jovem, que desperta progressivamente nos homens que a admiram a paixão e a obsessão. Logo eles entram em uma fúria assassina que, após deixar um rastro de cadáveres, atinge a ela própria, mas não faz diferença, porque ela acaba ressucitando em um ciclo sem fim. Adaptado para o cinema, a franquia totalizou cinco filmes. Aliás, ao todo quinze filmes foram baseados na obra de Ito, e tanto isso quanto o fato do autor ter ganho um Prêmio Umezu por sua obra contaram muito para que ele abandonasse de vez a ortodontia e se tornasse quadrinhista em tempo integral.


Aqui está a filmografia baseada em seus trabalhos:
Senritsu no Senritsu (1992)
Tomie (1998)
Tomie: Another Face (1999)
Tomie: Re-play (2000)
Uzumaki (2000)
Bohyou no Machi (2000)
Kao Dorobu (2000)
Kubitsuri no Kikuyuu (TV, 2000)
Nagai Yume (2000)
Oshikiri (2000)
Shibito no Koiwazurai (2001)
Tomie: Rebirth (2001)
Tomie: The Final Chapter - Forbidden Fruit (2002)
The Groanin Drain (2004)


"Pessoas tendem a buscar excitação para sentir que estão vivos. Pessoas podem ter excitação física em uma montanha russa, o que é uma forma de conseguir isso de uma maneira segura e controlada. O quadrinho de horror dá às pessoas o mesmo tipo de excitação mental em um ambiente igualmente controlado."
 Kanako Inuki



Interessante não acham? *-* Eu achei xD, mas é difícil achar alguma coisa de terror que realmente dê medo -.-". Enfim, fico muito feliz se tiverem aproveitado.

 Beijos para todos ;*
Hatake Liah



3 comentários:

Blecker disse...

Post mto bom, bom ver q os posts da liah-san são interessantes(e mto grandes, se são)

Tutch disse...

Realmente, post bem grande mas muito interessante. História do Horro no japão, muito bom =3. Continue postando sem medo (kkk)

Anônimo disse...

:t

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